Roma (Itália). O Setor das Missões do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora recolheu os testemunhos de algumas missionárias da América Latina, da Oceania, Ilhas Salomão e da África, que compartilham como vivem o Natal com os seus povos.

Do Brasil-Amazônia, Inspetoria N. S. da Amazônia (BRM), Ir. Cláudia da Costa Matos, FMA, membro da Equipe Itinerante da Amazônia, descreve o Natal amazônico:

“O Verbo se fez índio” – O lugar de nascimento de um dos povos indígenas da região do Alto Rio Negro:

A experiência da viagem pela Amazônia permite-nos contemplar o esplendor da criação e da encarnação. Por estas partes é Natal todos os dias, de modos diversos: do amanhecer ao anoitecer o Verbo se encarna, floresce a vida. Os festejos começam em outubro com o Círio de Nazaré, uma grande manifestação em que mais de dois milhões de pessoas se reúnem nas ruas de Belém, que se tornam como um mar de pessoas, para acompanhar a minúscula imagem da Mãe de Jesus. Costuma-se dizer que a vela de Nazaré é o natal das pessoas do Pará. (…) Quando chega o Advento, as famílias começam a preparar suas casas para a vinda de Jesus Menino. Nas casas mais simples monta-se um presépio num canto da sala: cada um a seu modo, posicionam-se as peças, a Bíblia, um vaso de flores e a vela. As famílias católicas fazem novenas de Natal toda noite em suas casas. No fim da novena, encaminham-se à capela ou à paróquia, onde se celebra o Natal com toda a comunidade. Após a missa, as famílias comumente reúnem-se nas suas casas.

“E o Verbo se fez refugiado” – O Natal dos migrantes da Amazônia:

Como José e Maria, em busca de uma pousada, muitas famílias encontram-se nas ruas, praças, debaixo de pontes e nas fronteiras. Em lonas, nas tendas, sobre a relva, sobre papelões, caminhando com os colchões procurando um lugar para ficar, lavando-se e lavando roupas e utensílios nos charcos e nas calçadas onde encontram um pouco de água. Hoje são muitas as famílias da Amazônia e de outras partes do continente e do mundo que continuam a procurar uma estalajem e são perseguidas: famílias Venezuelanas e haitianas, que estão atravessando as fronteiras da Amazônia por veredas, em busca de condições de vida digna.

“E o Verbo se fez favela” – O natal dos pobres nas periferias das pequenas e grandes cidades:

Nas periferias e nos submundos. Sim, na Amazônia há periferias e favelas. Não são apenas rios, florestas e animais. Habitam ali a grande maioria dos povos indígenas que foram constrangidos a deixar as suas terras ou delas foram expulsos. Muitos costumes, junto com suas terras, foram abandonados. Há também pessoas de outras regiões em busca de melhores condições de vida. Enquanto a vida não melhora, as pessoas vão desenvolvendo uma incrível capacidade de sobrevivência quotidiana com muita criatividade e resiliência. Todo dia é um dia para renascer, reinventar-se e correr atrás de uma melhor condição de vida. Para muitos, o Papai Noel é o símbolo do Natal. Nessas periferias, festeja-se o Natal com comida, bebida e música em alto volume: As famílias geralmente se reúnem em alguma casa, pátio ou corredor e dividem o pouco que têm. É bonito ver a solidariedade. Cada um segura um prato típico para compartilhar, além de uma bebida. E depois a festa continua: “Sabe, somos pobres, mas somos felizes”.

“E o Verbo tornou-se uma floresta”.  Natal no Seringal:

O Criador quis encarnar-se aqui, na floresta, com toda a biodiversidade que possui. Aqui a vida nasce cada dia misteriosamente, com a sua singular beleza. Podemos chamá-la “a manjedoura da biodiversidade”. O Natal do Menino Jesus na mata prepara-se também com a oração da novena. Todas as famílias participam, a manjedoura é preparada com paus e palha para acolher Jesus. Toda a noite a novena acontece numa família. As famílias moram em colônias distantes umas das outras, uma hora de caminhada em média. Na noite de Natal, todas as famílias se reúnem na comunidade do seringal, onde acontece a grande festa. Durante o dia reúnem-se para preparar o alimento, fruto da partilha para a qual cada família contribui. Depois da celebração, há comida para todos, fruta cultivada e colhida na grande floresta, onde tudo fala do Criador que aqui se encarnou: o Deus que continua a encarnar-se e a se fazer presente, como vida e abundância para o mundo.

Nas Ilhas Salomão, conta Ir. Anna Maria Gervasoni da Inspetoria Maria Auxiliadora (SPR), “a festa do Natal é durante as férias de verão. O povo atinge as próprias famílias de origem e na proximidade do Natal nas aldeias principais das ilhas preparam-se as festas: a novena e a missa de Natal, jogos e desafios, os coros para ocupar crianças e jovens em atividades envolventes, debates sobre vários temas para os adultos e o mais esperado de todos… O almoço de Natal!

Certamente, também aqui o almoço de Natal é o ponto culminante da festa: tudo o que se pode esperar da imaginação e criatividade culinária das mulheres realiza-se nesta ocasião. A tradição pura e a novidade juntam-se para a alegria dos corações… e dos estômagos! E, como manda a tradição, come-se rigorosamente nas folhas de banana colocadas no prato.

Em qualquer aldeia ou ilha, a manhã de Natal é toda dedicada à celebração. À medida que as pessoas chegam à aldeia principal, trocam-se saudações, pergunta-se como vai, oferece-se um descanso, principalmente para aqueles que chegam de mais longe. Sentam-se, contam-se as novidades.

Os grupos que se ocupam da celebração preparam-se, vestem o traje bonito, ensaiam as danças, afinam os instrumentos, enfeitam os presentes, ensaiam cantos, tudo é um crescendo que leva ao início da Celebração Eucarística, feita sem pressa, tomando todo o tempo para a oração, a escuta, a alegria, o Mistério. Não se contam as horas, não se olha o relógio, não se tem pressa de ir para casa, porque é o momento mais importante, o significado do dia, o motivo da festa.

Todos vestem o traje bonito, guardado na mochila bem protegido para não se molhar nem se sujar, e vão à festa para encontrar o Santo Menino e adorá-lo. É um deles, pobre, rejeitado, mas cercado pelo amor de dois pais que o protegeram e o criaram com a simplicidade de gente comum.

Por isso esta festa é a festa deles: num mundo que corre e deixa para trás populações inteiras, o nosso povo sente a proximidade e a pertença a um Deus que não corre, que não ultrapassa, mas que se inclina e os acolhe como um dom precioso”.

Ir. Aurea Arcos Risco pertencente à Comunidade de Koumra Chad, em Ciad, Inspetoria Santa Maria D. Mazzarello (AEC), conta que na paróquia a festa de Natal começa no dia 24 de dezembro e vai até o dia 25. As crianças passam a noite do dia 24 de dezembro na paróquia e durante a Santa Missa representam o presépio, para continuar a festa depois durante toda a noite. No Ciad e em toda a África, é a festa das crianças e em algumas localidades são as crianças que ajudam os pais e os adultos em geral a compreender o sentido da festa: motivo pelos quais os pais, nesta ocasião, procuram fazer sacrifícios para poder comprar presentes simples e, se as possibilidades econômicas o permitem, compram roupas novas para as crianças.

O Natal, festa universal, consegue de qualquer modo deter a corrida e prender a atenção de todos e, acima de tudo, conduz cada homem e mulher da terra a se medir com o significado profundo da vida.