Roma (Itália). Celebra-se no dia 13 de novembro de 2022 a memória litúrgica de Santo Artêmides Zatti, Salesiano Coadjutor canonizado em 9 de otubro de 2022 em Roma, na Praça São Pedro. Na ocasião, Pe. Pierluigi Cameroni, Postulador Geral das Causas dos Salesianos de Dom Bosco, compartilha os testemunhos sobre a colaboração do Santo com as Filhas de Maria Auxiliadora na missão do hospital São José de Viedma, Argentina:

A relação de Santo Artêmides Zatti com as Filhas de Maria Auxiliadora insere-se na grande e heroica história das missões salesianas na Argentina, primeira fronteira do coração apostólico de Dom Bosco, e na história da missão desempenhada por Zatti em Viedma por mais de 50 anos a serviço dos pobres e enfermos.

Para a seção feminina do hospital São José de Viedma e para a cozinha, já desde o tempo do Pe. Garrone, as Filhas de Maria Auxiliadora prestavam o seu serviço: ordinariamente eram duas. O edifício das Irmãs no início estava estreitamente ligado ao edifício da casa salesiana e, portanto, era fácil a colaboração. Nos tempos de Zatti a casa das Filhas de Maria Auxiliadora já havia sido transferida para outra localidade, mas as Irmãs continuaram seu serviço na ala feminina enquanto o Hospital São José não tivesse que transferir-se para a Quinta Santo Isidoro na periferia da cidade.

Mesmo prestando o seu serviço na ala feminina, por evidente exigência de prudência, Zatti devia prover a toda a organização e às necessidades materiais de todo o hospital. Entre as Irmãs que prestaram seu trabalho são lembradas a Irmã Severina Teghille, que lá trabalhou de 1895 a 1940, e depois a Irmã Maria Grana e a Irmã Maria Méndez. Irmã Severina era bastante intransigente, às vezes até com o próprio Zatti, enquanto este tratava as pessoas e os problemas com um critério de bondade.

Uma testemunha excepcional da vida virtuosa e santidade de Zatti é a Irmã Antonieta Böhm, Filha de Maria Auxiliadora e hoje Serva de Deus, que foi diretora em Viedma de 1949 a 1955 e por isso conheceu Zatti na últimos anos de sua vida. Assim fala sobre isso em suas Memórias missionárias:

No hospital em que o diretor era o coadjutor salesiano, o Sr. Zatti, agora beato, trabalhavam três Irmãs que pertenciam à minha comunidade. Era um hospital muito pobre; depois de alguns anos fizeram dele o palácio episcopal. Quanto sofreu o Sr. Zatti por isso! Teve que ir com os doentes para uma fazenda a vinte quarteirões de distância de sua comunidade. Nos seis anos em que fui diretora nesta Província tive muitos contatos com o Sr. Zatti. Chamavam-no o Padre Doutor, sempre vestido de jaleco branco e com a sua bicicleta. A sua característica era a alegria, o sorriso. Tinha um espírito como o de Madre Teresa de Calcutá, de santa memória. Cuidava dos enfermos mais pobres. Os médicos às vezes o chamavam para ajudá-los no outro hospital.

Em certa ocasião, o Sr. Zatti encontrou um moribundo na praça e o carregou em seus ombros, colocou-o na bicicleta e o levou ao hospital. Disse à Irmã: “Preciso de uma cama para…”; a Irmã respondeu que não havia lugar; ao que ele disse: “E na minha cama?”. Assim ele foi e depôs o moribundo em sua cama e ele se deitou no chão. Naquela noite, ajudou-o a morrer com uma boa morte.

Costumava chamá-lo para ajudar alguma Irmã doente, idosa. Quando a via, cantava um canto à Virgem e dizia à doente: “Agora, agora”. Não via que lhe desse algum remédio e a Irmãzinha muito feliz dizia: “Agora estou bem” … e morriam felizes.

O Sr. Zatti tinha uma voz alta e sonora. Para os seus doentes, todo domingo tinha pronto um novo louvor. Um irmão tocava e ele cantava. Seus pacientes estavam na capela e começava a homenagem à Virgem; cantava um belo louvor. Eu caminhava cerca de vinte quarteirões para escutá-lo; cantava magnificamente e dava um eloquente testemunho de santidade salesiana.

Tive a sorte de assisti-lo quando lhe foram administrados os santos óleos. Pediu que a este ato fosse dada toda a solenidade. Pediu ao padre diretor para vestir a melhor túnica e a estola, e as velas acesas. E, em torno, todos os doentes que podiam ficar de pé. E deu a última catequese, explicando aos seus pacientes o Sacramento da Extrema Unção. Disse-lhes: “Tantas vezes eu disse isso a vós, agora é a minha vez”. Naquele momento chegou uma enfermeira com uma injeção para acalmar a dor, já que o médico havia receitado e o Sr. Zatti lhe disse: “Vê, não posso trabalhar, a dor é minha, não a dou a ninguém. Vai por favor com a tua seringa e digas ao médico que a aplique a ele”. Participou serenamente da Unção dos enfermos e explicou-lhes o que significava cada ato. Explicava como devemos nos preparar para receber esse sacramento.

Desde jovem, o Sr. Zatti queria ser salesiano, mas estava muito doente: tinha os pulmões doentes. Então o diretor do hospital naquele momento chamou Zatti antes que morresse e lhe disse: “Te prometo, vou te curar, mas tu prometas que irás trabalhar no hospital”. Assim foi. O amor do Sr. Zatti por Nossa Senhora e a sua alegria eram fortíssimos. Não se lamentava de ninguém e de nada. Nunca o vi triste”.

Zatti tinha uma sobrinha, Maria Zatti, FMA. Um dia em Bahia Blanca já no fim do santo coadjutor Maria Zatti encontrou-se com o tio e convencida da sua santidade disse-lhe: Ó santo tio: quando entrares no paraíso, me esconderei num dos teus bolsos…”. “E eu farei como a águia, respondeu o tio Artêmides, quando a tartaruga quis subir ao alto agarrando-se a ela, deixou-a cair e se esfacelou na terra”. E ria com vontade. Depois, mais seriamente, acrescentou: “Entrarás no céu, sim, não pelas obras do teu parente, mas pelas tuas”.

Que grande verdade: os santos nos servem de modelo e poderosos intercessores, mas não se substituem à nossa responsabilidade e ao nosso caminho de santidade.

Um mês após a grande festa de canonização de Artêmides Zatti, a Agência de Informação Salesiana ANS preparou um vídeo síntese do que aconteceu no Vaticano nos dias 8 e 9 de outubro de 2022, junto ao Papa Francisco, ao Reitor-Mor e a toda a Família Salesiana: